sexta-feira, 10 de setembro de 2010

OS PÁRIAS


OS CIGANOS - REFLEXÃO PARA O SEU FIM DE SEMANA
Violando todas as regras europeias, Sarkozy continua o repatriamento dos ciganos romenos e búlgaros. Em tempo de crise, há que encontrar alvos fáceis. E eles tanto podem ser ciganos, os imigrantes ou apenas os mais pobres dos mais pobres. É dos livros: atiçando o povo contra os desgraçados se salvam os poderosos.
Eternos perdedores, expulsos vezes sem conta dos seus próprios países, os "romas" tiveram direito ao mesmo tratamento dado aos judeus nos campos de concentração nazis. Mas nem a história recorda o seu meio milhão de mortos durante o Holocausto. Párias de sempre, foram sendo, como os judeus, bode expiatório de todos os males. Como todos os povos sem terra, foi sempre o isolamento que os salvou. Com algumas diferenças: ao contrário dos judeus não têm uma religião própria, ao contrário dos arménios e dos curdos não têm uma origem territorial clara e ao contrário dos beduínos o seu modo de vida desapareceu sem remédio. Nada, a não ser as suas leis arcaicas e os seus estranhos costumes, os protegem da assimilação que não lhes reservaria mais do que o fundo da pirâmede social. Mas eles são, desde a Idade Média, tão europeus como qualquer europeu.
Não fujo ao problema: conviver com os costumes ciganos não é fácil. Porque para conviver com a diferença não chega a boa vontade. E a coisa piora porque as suas regras são de um tempo que acabou. A esmagadora maioria dos ciganos já não é nómada. As actividades a que se dedicavam foram industrializadas e eles perderam o seu lugar nas nossas sociedades. Restam-lhe duas possibilidades: ou se integram e desaparecem enquanto comunidade ou resistem numa tensão permanente com tudo o que os rodeia. Não é uma escolha fácil.
Do nosso lado, a alternativa ao ódio não deve ser negar a dificuldade. Depois de tantos séculos, talvez seja a altura de perceber que, mesmo que a integração se vá fazendo, ela não deixará de ser dolorosa. A resposta europeia aos que preferem escarafunchar na ferida para ganhar vantagem política é ir resolvendo conflitos. e isso demora tempo. Séculos. eternidade. Porque, já se sabe, o inferno são os outros. E os ciganos sempre foram os outros.
(Texto de Daniel Oliveira, pu8blicado no jornal "Expresso" de 28 de Agosto de 2010)
Nota: Os políticos sempre foram hábeis em atirar poeira para os olhos do povo. Poeira que oculte a realidade. Que esconda da opinião pública assustada com a pequena delinquência, os verdadeiros criminosos. É natural que os ciganos, incapazes de se integrarem, atirados para o seu gueto, apenas encontrem na marginalidade forma de sobreviverem. Claro que isso não os desculpa. Mas, caro leitor,depois de limpar o argueiro que lhe atiraram para os olhos, veja um pouco mais além. Criminosos, os ciganos?
Quem provocou o terrível terramoto social, económico, à escala global, porque passam as nossas sociedades? Os Bancos!
Quem desempregou milhões de trabalhadores e a miséria que se lhe seguiu?
Quem destrói o meio ambiente, com as doenças que lhe estão inerentes, em nome do lucro máximo?
Quem chacina povos inteiros em nome do petróleo e outras matérias-primas?
Quem?
Não foram certamente os ciganos!
E, convenhamos, os crimes cometidos para o enriquecimento das elites são bem mais penalizadores do nosso bem estar do que aqueles que os ciganos possam cometer.
Não são os ciganos que fecham hospitais, escolas, pagam baixos salários, exploram mão-de-obra escrava em Àfrica, na Asia, na América Latina, desempregam, matam.
Os verdadeiros delinquentes são os políticos e a sua relação promíscua com interesses económicos inconfessáveis. São os políticos que na sua sede de poder não hesitam em aliar-se a quem os sustente, a quem lhes pague as armas e as polícias (Guebuza, o presidente de Moçambique, senta-se à mesa com um dos maiores traficantes de droga, procurado por Obama. Angola dá imunidade diplomática a um dos maiores traficantes de armas. Em Portugal, em Espanha, no Brasil, em França, em Inglaterra, no Japão, na China, na Coreia do Norte e do Sul, na Rússia, são constantes os escândalos económicos, envolvendo os homens do poder e a elite económica).
Esses são os verdadeiros malfeitores, os responsávies pela miséria, pela morte, pela doença dos povos e é contra eles que devemos canalizar a nossa raiva.
Sarkozy, esquecido que é um descendente de emigrantes, depois de se ver envolvido em acusações de tráfico de influências, decide, tomando o povo francês por parvo, acusar os ciganos de todos os males de França. E o que é triste é que o povo acredita. Sarkozy sobe nas sondagens à opinião pública.
(AOC)

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