quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

BRADLEY MANNING E O WIKILEAKS


Considerado herói por uns, traidor por outros, Bradley Manning, jovem idealista de 23 anos, que contornou os sistemas de segurança mais sofisticados do mundo para denunciar os abusos do Exército norte-americano, arrisca-se a ser condenado a uma pena de prisão de 50 anos. Será justo? Penso que não!


Afinal, Bradley apenas quiz mostrar a hipocrisia das democracias que, em nome dos seus interesses económicos, escondidas na demagogia da propaganda, cometem tantos crimes quanto as ditaduras cometem às claras.


Em janeiro de 2010, Bradley foi colocado numa base militar americana a 60 quilómetros de Bagdade, onde as suas competências informáticas lhe atribuíram o cargo de analista de informação militar. Em breve, aquilo que vê e lê deixam-nos perturbado, apesar de ter sido condecorado três vezes. Não conseguindo calar a revolta troca correspondência com Adrian Lamo, que o viria a denunciar às autoridades. Anseia por acabar o contrato de quatro anos com o exército para retomar os estudos longe da guerra.


Contudo, quando toma conhecimento do vídeo em que se vê um helicóptero Apache a lançar um míssil Hellfire sobre civis e dois jornalistas da agência Reuters, nos arredores de Bagdade, em abril de 2007, sente-se culpado por fazer parte daquela máquina de guerra: "Sou apenas ingénuo, jovem e estúpido?", pergunta num e-mail enviado a Lamo em maio de 2010. Perante tanta torpeza decide colocar o vídeo no Wikileaks, um sítio que permite colocar anonimamente e em segurança, informações que denunciem o comportamento não ético dos governos. Mas é quando descobre que a prisão de 15 iraquianos, acusados de terrorismo, apenas serve para encobrir a denúncia feita no relatório "Para onde vai o dinheiro?"da corrupção que grassa no Governo do primeiro-ministro iraquiano, Nouri al-Maliki, que percebe que estava definitivamente contra o sistema. Não pára mais.


Recusa-se contudo a vender as informações que sonega. "Elas pertencem ao público. Foi por isso que fiz isto. Sou tão doido como isso. Não sou um porco espião que recolhe informações...", confidencia a Lamo.


Idealista honesto, pretende, com o seu acto de coragem, suscitar um debate mundial e reformas: "Se nada se passar, isso quer dizer que o homem é maldito enquanto espécie...Mas quero continuar a acreditar na sociedade...Quero que as pessoas vejam a verdade."


Poderá Bradley ser considerado traidor? Não! Considero-o, pelo contrário, digno de admiração e exemplo a seguir.


É pois necessário um movimento a nível mundial,de recolha de assinaturas, tal como se fez para impedir o apedrejamento de Sakineh pelas autoridades do Irão, que defenda este cidadão da pena de prisão. A sociedade civil, todos aqueles que acreditam numa democracia sem máscaras, sem demagogia, tem uma palavra a dizer neste caso.
AOC

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