quarta-feira, 2 de novembro de 2011

A BATALHA DE WATERLOO


O dia seguinte
por Viriato Soromenho Marques (DIÁRIO DE NOTÍCIAS)

A 18 de Junho de 1815, na noite da vitória de Waterloo, o duque de Wellington percorreu o reduzido e enlameado campo de batalha, onde se acotovelavam os corpos de dezenas de milhares de homens, mortos, moribundos e gravemente feridos. Perante os lancinantes pedidos de socorro, em várias línguas europeias, o grande herói britânico terá dito estas sábias palavras: "Depois de uma derrota, a coisa mais triste que há é uma vitória" (Next to a battle lost, the saddest thing is a battle won).

O pânico regressou às bolsas. Foi breve a euforia causada pelos resultados da cimeira europeia de 26 de Outubro. O que parecia ser o anúncio de uma vitória da estratégia míope com que o directório germano-gaulês conduz os destinos da Zona Euro, acabou por se revelar ser essa coisa "ainda mais triste", uma derrota. Nada do que ficou decidido resistiu ao teste de contacto com algumas horas de realidade. A Grécia não ficou resignada com um perdão que a coloca permanentemente num limbo de indigência. Papandreou, com a coragem do desespero, anunciou um referendo para breve. Pela primeira vez nesta crise, o povo vai ter a palavra. A recapitalização dos bancos pune aqueles que apoiaram os Estados comprando dívida pública, e ameaça secar mais o crédito à economia. O "aumento" do FEEF não passa de uma mentira. Neste momento, este Fundo tem apenas 250 mil milhões de euros disponíveis, e o seu crescimento através de "alavancagem" faz lembrar a perigosa engenharia financeira que levou ao eclodir da bolha imobiliária em 2008. A subida vertiginosa dos juros da dívida italiana, mesmo suportada pelo BCE, mostra que o FEEF já não convence ninguém.

Este modelo de construção europeia caminha para o seu Waterloo. Não podemos permitir que as ideologias impeçam as políticas de serem calibradas pela dura realidade. Portugal tem de se preparar para o "Day After".

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