terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

DICIONÁRIO LELLO - PORQUE DESPREZAMOS CADA VEZ MAIS ALGUNS POLÍTICOS


 
Os nossos linguistas, terminologistas e demais peritos nas ciências da linguagem deviam dedicar-se a estudar o fenómeno. Não é investigação para amadores. O problema é complexo. Ao longo dos anos, o político português tem demonstrado e aprimorado uma superior capacidade para arranjar desculpas, digamos, completamente absurdas e esfarrapadas. Não interessa se lhe apresentam declarações e gafes que não pode refutar, ou números que não pode negar. Não. O político português reage às críticas e escândalos desculpando-se sempre com grande auto-indulgência. É certo que o actual primeiro-ministro pediu uma vez directamente desculpas por ter de aumentar impostos. Mas aqui não há pedidos desses. Há apenas formas originais de, perante factos desagradáveis, tornear, fugir, despistar e, sobretudo, gozar com a nossa mediana inteligência.



Um caso extremo e ao mesmo tempo deprimente é o de José Lello. O antigo vocalista duma banda de yé yé nos anos 60 deixou há muito o registo suave de outras épocas. Tornou-se, entretanto, num dos políticos mais trauliteiros da República. No PS tem inimigos célebres, de Ana Gomes a Manuel Alegre. Mais do que isso. Lello, um dos que frutificam nos interstícios do regime – deputado, dirigente desportivo, administrador de empresas, sei lá o que mais, numa gama de interesses que abrange o mundo empresarial, o futebol, as relações internacionais e as comunidades portuguesas no estrangeiro –, Lello, digo, é dos que há décadas actua na vida pública com total impunidade e irresponsabilidade. Pelo meio vai cometendo as suas argoladas, pois claro. Mas não é homem para se deixar atabalhoar. Justifica-se sempre. É um exímio desculpador de si próprio.
Por exemplo, em Abril do ano passado Lello usou o Facebook para dizer que Cavaco era um “presidente mesmo foleiro” por não ter convidado os parlamentares para as cerimónias de comemoração do 25 de Abril em Belém. Que respondeu ele depois quando começou a ser abalroado pelos jornalistas sobre as suas palavras? Afirmou que “tudo se resumia a uma arreliadora deficiência tecnológica”, uma vez que nunca pretendera publicar aquele impropério numa rede social. A mensagem dirigia-se via telemóvel para um colega de partido e, por erro de um incompetente informático, acabou no conhecimento público.

Mais tarde, Lello teve outro ataque de nervos na Assembleia quando um repórter fotográfico centrou a objectiva no monitor do seu computador. Bateu a tampa do monitor com estrépito e argumentou que a sua privacidade estava a ser violada. O Presidente da Assembleia, Jaime Gama, bem lhe notou que o seu computador não era de uso pessoal mas da Assembleia. Lello insistiu afirmando que os deputados “não podem estar sujeitos ao voyeurismo”.
Depois vêm as suas excelentes companhias, gente que leva o nome do Estado português bem alto. Todos nos lembramos daqueles empresários do jogo do bicho que escolheu para representarem o PS e Portugal no Brasil. Outro caso. Em 2009, o seu antigo chefe de gabinete e embaixador português no Senegal, António Montenegro, foi noticiado e investigado (e chamado a Lisboa) por fazer da embaixada portuguesa em Dakar um prostíbulo. Como a vida em Dacar era entediante, o embaixador precisou de espairecer desenvolvendo um certo tipo de diplomacia económica mais ligada ao sector dos serviços. Confrontado com essas práticas do seu antigo colaborador, aliás bastante comentadas no meio, Lello lá reconheceu que “isto não tinha muito a ver com diplomacia”.


E agora o grand finale. Ao saber-se que o deputado socialista escondeu durante 14 anos ao Tribunal Constitucional (de 1995 a 2009) uma conta de 658 mil euros no BCP, a cuja declaração estava legalmente obrigado, como é que o nosso Lello se justificou? Que “não conhecia bem a lei e não sabia o que tinha de declarar”. Já nós conhecemos muito bem José Lello. Um caso de estudo. Jurista Em casa de ferreiro espeto de pau. A ministra da Justiça nomeou mais um funcionário para o seu gabinete, tendo feito constar do despacho o direito aos subsídios de férias e de Natal. O gabinete de Paula Teixeira da Cruz garante que, apesar do despacho, os subsídios estão suspensos. Essa não é a opinião de alguns juristas, que criticam o despacho. (Pág. 10)

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