quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

QUERIDO PAI NATAL: E UMA NOVA BANDEIRA,PODE SER?


E uma nova bandeira, pode ser?
20/12/12 00:31 | Helena Cristina Coelho
JORNAL ECONÓMICO


Querido Pai Natal, esta não é uma lista de pedidos de presentes ou fantasias de Natal.
Querido Pai Natal, esta não é uma lista de pedidos de presentes ou fantasias de Natal. Não é sequer uma forma de desculpar o mau comportamento do País nos últimos anos para justificar um típico acto de generosidade no final do ano. É, acima de tudo, o reconhecimento de que chegamos ao final de um 2012 muito duro que tem servido de estágio para um novo ano ainda mais penoso. E é também um lamento por, ao fim de mais um ano, ver tantos projectos e ambições de Portugal a caírem em saco roto. Confesso: gostaria muito que esta fosse uma genuína lista de pedidos para o País.

Uma lista onde cabem velhos sonhos e aspirações de um País que minou a auto-estima e a autonomia à conta de asneiras, ganâncias e erros de cálculo. Gostaria muito que os portugueses não fossem obrigados a chegar ao final de um ano a fazer contas à venda dos seus mais preciosos anéis. Que não tivesse de entregar a gestão das suas redes energéticas a outras nações, seja a China ou outra qualquer, porque necessita urgentemente de receitas. Que não precisasse de entregar a investidores internacionais, sejam da Colômbia, Alemanha ou Angola, a gestão dos seus estaleiros, dos seus aeroportos ou dos seus aviões, simplesmente porque deixou de ter músculo e fôlego financeiro para os sustentar. Que pudesse contar com grandes e sólidas empresas privadas portuguesas para manter estes negócios em mãos nacionais.

Mas nada disso se parece cumprir. Mais milhão, menos milhão, os dedos debilitados de Portugal vão perdendo os anéis que, durante anos, marcaram uma identidade nacional. Uma bandeira a que os portugueses se agarram agora para segurar o que, nesta conjuntura, não têm forma de pagar. Como muitos portugueses, também eu gostaria de pedir que a RTP se prolongasse como um canal de (verdadeiro) serviço público, que os estaleiros de Viana continuassem a funcionar com capital nacional, que a gestão da ANA permanecesse em mãos portuguesas, que a TAP continuasse a orgulhosa companhia aérea de bandeira. Mas não há orgulho nacionalista que resista a uma economia falida. Não há mão que valha a pena bater no peito quando há dívidas, passivos e prejuízos a sangrar nas contas das empresas públicas.

Se há lição a retirar deste castigo - sim, porque ser obrigado a vender tudo isto vale quase tanto como uma punição - é que alguma coisa os portugueses terão feito bem pelo caminho. Se hoje há investidores de vários cantos do mundo disponíveis para comprar estas marcas e empresas, é também porque os portugueses conseguiram criar e manter projectos suficientemente válidos para justificar esse interesse, há um projecto que vale a pena manter e ajudar a crescer. E isso deveria fazer alguma coisa pelo País. É verdade, custa vender (ainda para mais à pressão) aquilo que demorou tanto a construir.

Mas, se há momento de trocar os velhos problemas por novas soluções, é agora. Os portugueses não precisam de companhias de bandeira. Precisam, isso sim, de novas bandeiras. Precisam de novas metas, aspirações, planos, regras, um futuro que nos descole de vez destes anos penosos em que começámos a derrapar, em vez de acelerar. Por isso, Pai Natal, se não for pedir muito, seria possível receber os pilares de um País novo no próximo ano? A nossa futura bandeira depende disso.

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